
ALMAS DELIRANTES
Do Telhal a Rilhafoles
Luís Cebola
152 páginas
ISBN 978-989-35957-2-5
Neste livro, encontram-se textos seleccionados de duas obras do psiquiatra Luís Cebola: A Mentalidade dos Epilépticos (1906) e Almas Delirantes (1925). Em ambas, optou por deixar em segundo plano as análises psiquiátricas, dando destaque às expressões, ao sofrimento, à criatividade e à humanidade dos «alienados».
Assim, temos acesso a textos, cartas, poemas e desenhos dos internados na Casa do Telhal e no Hospital de Rilhafoles. Ficamos a conhecer a loucura de há um século, com um vislumbre do talento e sensibilidade que esta não conseguia, apesar de tudo, extinguir.
Cebola, médico alienista, demonstra que a sua psiquiatria transcendia uma análise fria das patologias; era também uma reflexão constante sobre a complexidade humana: «Quantas vezes ao sair da casa dos loucos, eu fico a pensar se eles, os detentores das verdades cruas, não serão também, neste mundo, as únicas pessoas de juízo.»
Neste ano, assinala-se o 100.º aniversário da publicação de Almas Delirantes, que foi assim recebido na imprensa há um século:
«O maior interesse de livros como este, está na revelação curiosíssima dos aspectos do que poderíamos chamar a “marca” fronteiriça entre a loucura e a saúde mental.»
— O Século, 2 de Setembro de 1925
Luís Cebola (1876–1967)
Luís Cebola formou-se em Medicina em 1906, na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Na sua tese inaugural, A Mentalidade dos Epilépticos, orientada pelo Professor Miguel Bombarda, dedicou-se à análise psicopatológica dos escritos e outras expressões dos internados no Hospital de Rilhafoles. Influenciado por Charles Dubois (1848–1918) e pela prática do tratamento moral, manteve ao longo da sua carreira um interesse contínuo pela psicopatologia e pela criatividade dos alienados, particularmente visível no livro Almas Delirantes (1925).
Entre 1911 e 1949, foi director clínico da Casa de Saúde do Telhal, onde fundou o Museu da Loucura (1920), com o objectivo de reunir e expor as obras artísticas produzidas pelos seus pacientes.
Deixou uma extensa obra publicada, não só na área médica, mas também de carácter sociopolítico (era um republicano convicto) e literário (ficcional e poético).
Stefanie Gil Franco
Stefanie Gil Franco tem formação em Antropologia e História da Arte, feita entre o Brasil e Portugal. Nos últimos anos, tem trabalhado com arquivos psiquiátricos, com foco especial nas colecções de arte, promovendo debates sobre patrimónios difíceis e arquivos instáveis, além de abordar a loucura como um conceito significativo no campo das artes.
Tem experiência na organização e conservação preventiva de arquivos artísticos e documentais, com interesse especial na consolidação de um plano de preservação das colecções de arte de instituições psiquiátricas em Portugal.
Sendo apaixonada por literatura, resolveu (re)partilhar estes poemas, cartas e outros textos dos poetas de Rilhafoles e do Telhal. É autora de Os Imperativos da Arte: encontros com a loucura em Portugal do Século XX (2019, Ed. Caleidoscópio).